Marketing e Melancolia

group of happy smiling couples taking picture together in the park

Muito se fala a respeito da velocidade forçada com que os mercados e as empresas estão mudando nestes tempos, do quanto é difícil para os profissionais mais competentes sobreviverem nesta selva instável de cobra comendo cobra no ambiente corporativo, da exigência excessiva de qualificação atual e imediata nos empregos, das novas realidades e desafios.

Este mesmo ritmo frenético, muitas vezes insustentável, tem chegado também à vida pessoal destas pessoas, guiando suas amizades, seus namoros e casamentos, trazendo tantos ou ainda mais desafios do que suas insaciáveis vidas profissionais.

Hoje em dia, é praticamente impossível termos e cultivarmos aqueles velhos e bons dois ou três melhores amigos que costumávamos ter. Agora, é necessário termos cinco mil amigos no Facebook, dez mil no Instagram e fingir que realmente somos íntimos de todos eles, para não parecermos impopulares.

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Namoros e casamentos, então, nem se fala. Todos aqueles que se arriscam nestas desafiadoras aventuras modernas de Tinders e semelhantes têm aquele sentimento de urgência, lembrando que ao primeiro sinal de problemas na relação já poderão ter garantido o seu direito de tentar conhecer outras pessoas rapidamente, para não perder as oportunidades que surgem, ou se arriscar a usar com orgulho um bonito chapéu de corno(a) abandonado na cabeça – e haja música brega pra acompanhar este ritmo.

Afinal, pra que tentar salvar qualquer relação se temos tanta gente à nossa volta, conectados pela Internet, mandando mensagens para nossos celulares, falando de coisas tão interessantes que aprenderam on-line tais como a física ecumênica dos lordes monges aquáticos do Futucustão Oriental?

É, pessoas… Essa vida pessoal moderna exige qualificação e diferenciação para superar a grande concorrência diária. É preciso beijar melhor, transar melhor, conversar melhor, se vestir melhor, emagrecer e malhar, estar atualizado com as festas, ter uma ideia nova a cada dia, ser mais engraçado que os outros sem passar do ponto, ter dinheiro para pagar aquela rodada de cerveja pros os amigos ou para promover aquele festão de aniversário.

Uma vida pessoal tão banalizada só poderia gerar mesmo uma legião de pessoas e consumidores melancólicos que estão substituindo, muitas vezes sem perceber, a existência de verdadeiros amigos e cônjuges pelos relacionamentos com as empresas. Afinal, empresas estão sempre dispostas a oferecer o seu melhor. Os amigos, nem sempre.

Este é pelo menos um dos motivos pelos quais temos consumidores mais exigentes nestes relacionamentos, que querem conversar mais com os vendedores nas lojas, contar suas vidas aos atendentes de padaria, opinar mais sobre a comida do restaurante, participar de reuniões de marketing nas empresas.

Muitas redes sociais insistem naquela cor azul-calcinha de gosto duvidável, porque azul é a cor preferida dos melancólicos.

Você já me segue nestas redes?

Mídia e publicidade azul ajudam a vender mais, nesta nova e solitária era social. É mesmo reconfortante.

Se quisermos ver de volta um marketing e uma publicidade mais vibrantes e até, em alguns momentos, ingênuos ou ofensivamente otimistas como os que foram feitos nos tempos de nossos avós, é preciso mudar algo rápido não nas empresas mas nas nossas próprias e vulgarizadas vidas.

O marketing é apenas um espelho da sociedade. Se a sociedade está melancólica, teremos um marketing melancólico, emotivo e muitas vezes até sarcástico.

Alegria e otimismo na mídia? Nesta era de excessos, só se forem imediatos, rápidos e superficiais como uma ficada de adolescente na festa de aniversário do Cabeção, ao som da música eletrônica mais descartável possível e rodeados de muita galera bonita e vibrante. Vendo tanta gente interessante junta pulando em um comercial, fica mais fácil não querer se apegar a ninguém, e acreditar que o mundo é mesmo amigável.

Afinal, é preciso oferecer à sociedade aquilo que ela quer e precisa comprar. Tá bom assim, pra você?

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